“Aquele que virá está no meio de vós” (Jo 1,26).
A espiritualidade no Tempo do Advento
“Ó prodígio realmente estupendo! Negociou e obteve para os demais a imortalidade aquele que por natureza era imortal. Em nível da encarnação, jamais existiu,nem existe, nem existirá um ser semelhante, a não ser o nascido de Maria, Deus e homem” (São Proclo de Constantinopla).
Queridos irmãos e irmãs, dentro da riqueza da nossa Igreja, está a sua Liturgia, que durante todo o ano participamos de belas celebrações com forte espiritualidade, ornada com as mais diversas flores, cantos, vestes e cores. Isso, é graças ao nosso Ano Litúrgico que não é uma simples sucessão de dias e meses, mas momentos importantes para celebrarmos os diferentes aspectos do Mistério de Cristo. Constitui o caminho de Cristo, um caminho com Cristo. “Esses ‘mistérios’ são a concreta realização da Igreja” (MARSILI, 2010, p.492). Portanto, o nosso calendário litúrgico é repleto de momentos únicos que nos ensinam a vivermos fatos da história da nossa salvação. “Evocando esses mistérios de Jesus Cristo, a sagrada liturgia visa a fazer deles participar todos os crentes de modo que a divina Cabeça do corpo místico viva na plenitude da sua santidade nos membros. Sejam as almas dos cristãos como altares nos quais se repetem e se reavivam as várias fases do sacrifício que o sumo Sacerdote imola; isto é, as dores e as lágrimas que lavam e expiam os pecados; a oração dirigida a Deus que se eleva até o céu; a própria imolação feita com ânimo pronto, generoso e solícito e, enfim, a íntima união com a qual nos abandonamos, nós e nossas coisas a Deus e nele repousamos sendo o essencial da religião imitar aquele que adoras” (MD, 137).
Dentro deste nosso calendário está, o TEMPO DO ADVENTO, momento reservado pela Igreja para nos prepararmos para a vinda do Senhor. A vinda d’Aquele que Deus nos prometeu como Redentor. Não se pode negar que Jesus nasceu como canta a Igreja transbordante de alegria, já há mais de dois mil anos: o fato prometido aconteceu.
Mas porque continuar ainda a rezar e invocar como se ainda estivéssemos esperando, sendo que o evento já se cumpriu? Querido povo de Deus, pode parecer uma fantasia de criança fazermos isso. Mas as coisas não são assim, a celebração litúrgica, de modo algum, seria um disfarce cênico ou representação sacra. Nós que pertencemos ao momento da história “depois de Cristo” vivemos os fatos históricos do passado mais do que como profecia, mais que uma promessa, mas como presença. Fazer memória de Cristo que vêm para realizar o seu natal, é reconhecer que o que houve há tantos anos atrás, ultrapassou a lógica do tempo (Cronos) e se faz presente (Kairós) no mistério da liturgia.
A liturgia do tempo do advento é mais do que a sombra do que aconteceu, ou figura do que deve se cumprir. Mas é imagem real do Mistério de Cristo. Preparemos nosso coração e nossa casa, pois Cristo irá nascer. Por isso, digamos junto à Sagrada escritura: “O Espírito e a Esposa dizem: Vem” (Ap. 22,17). O Advento é, portanto, o Mistério de nós, Igreja, que esperávamos o início do Reino de Deus e esperamos o cumprimento deste Reino. Nós enquanto Igreja não podemos deixar de rezar jamais: “Vem, Senhor Jesus; Marana’tha” (1Cor. 16,23).
O advento litúrgico, nos prepara para o nascimento humano do Verbo, cuja a graça participamos na celebração do Mistério e para a abundante Graça em plenitude que um dia teremos com a segunda vinda do Senhor. Como João Batista diz: “Aquele que virá está no meio de vós” (Jo 1,26). Irmãos, preparemo-nos para receber o Mistério perenemente atual que a estrela de Belém nos indicará o acontecido. Deus lhes abençoe!
Pe. Wallace Andrade Teixeira