Ao ler as páginas dos evangelhos percebemos rapidamente que na relação dos discípulos com Jesus há sempre a incompreensão por parte dos primeiros, e esse sentimento coexiste nos dias de hoje, sendo uma constante no discipulado de ontem e de hoje. Surge daí uma indagação: se os discípulos não compreenderam a mensagem de Jesus, por que continuaram a segui-lo?
Respostas de várias naturezas podem ser dadas, mas uma desponta com mais vigor; os discípulos eram pessoas apaixonadas por Jesus, eram pessoas encantadas por Ele. Eles O seguiam, pois Ele significava muito para eles, encontravam sentido, apesar da incompreensão, no seu projeto, que é o projeto do reino de Deus.
Jesus de Nazaré era conhecido por aqueles pescadores da Galiléia (cf. Mc 1, 16), e caminhava junto, convivia, era-lhes presente no quotidiano, com efeito, aquele povo era feliz, por que eles caminhavam com Ele, experimentavam sua presença, que lhes dava todo sentido, e preenchia todo vazio.
E, esse significado movia os discípulos e os levava a anunciar Jesus como a boa notícia para a salvação de todos. Os bispos da América Latina e do Caribe, reunidos em 2007 em Aparecida, por ocasião da V Conferência do CELAM disseram com acerto, “conhecer Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber, tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, a fazê-lo conhecido com nossas palavras e obras é nossa alegria.” (DAp, 29).
Na medida em que o discípulo se deixa fascinar pelo mestre, começa a reencontrar o caminho da realização e enfrenta com alegria as dificuldades. É preciso entrar na dinâmica do amor, e encontrar Jesus, que se expressa com carinho e na ternura de um irmão, na multiforme graça de Deus.
Todas as nossas carências, nossas dores, angústias e sofrimentos ganham sentido quando nos sentimos amados por Alguém. Quando sentimos nossas forças restauradas por um abraço, que supera todas as nossas falhas e nos faz sentir pessoas de novo, abraçados pelo Pai que nunca nos abandona e caminha conosco.
É preciso, sempre de novo, se reencantar por Jesus, apaixonar-se por Ele, e mostrar às pessoas que o cristão é um ser entusiasmado por Alguém que nos enobrece com sua grandeza. O ser humano quando se encanta de verdade, ultrapassa a pobreza do ensimesmamento e vive de verdade sua natural vocação à felicidade, que possui um nome e um rosto: Jesus de Nazaré.
O coração quando se apaixona, revigora-se quer sempre mais, quer expressar a alegria que o envolve e cativa, que não permite que ele seja o mesmo, mas que se transforme por Alguém muito maior, na sua Bondade, Beleza e Verdade.
O coração entusiasmado esforça-se constantemente para realizar a revolução da ternura, que o impele a sair da posição de uma constante espera a uma postura de eterna busca. Na alegria de dizer ao mundo o quanto Deus é bom, e que vale a pena experimentá-Lo e progredir na relação com a sua multiforme graça.
Ser discípulo é isso, encantar-se de novo por Aquele que nos ama por primeiro. Santo Agostinho nas suas confissões dizia: “tarde te amei, ó beleza tão antiga e sempre nova, tarde te amei”. E sempre me interrogava: por que tarde? Por que tarde? Quando descobri que, na relação de amor com Deus, nós sempre chegamos depois, Ele sempre nos conquista primeiro, nos vence pelo amor, e nos envolve na ternura do Seu amor de mãe.
Deus sempre quer nos conquistar, sempre bate à nossa porta e solicita um mínimo espaço, pois o mínimo de nosso esforço é sempre suficiente para que Ele nos transforme por inteiro. O discípulo é alguém que ama a Cristo incondicionalmente, a ponto de não se importar para onde Ele o conduzirá no futuro, o discípulo sempre confia.
Um fraterno abraço!
Seminarista Alessandro Tavares Alves