Mediante as atrocidades atuais tanto em Mariana como na França, o que pensar sobre a vida? A paz tão insistentemente lembrada? O amor mútuo? A reciprocidade de sentimentos? Perguntas como essa ainda encontram espaço no coração humano? As religiões são eficazes mesmo para fazer o coração humano se inflamar de amor? Ao fim de tudo toda intolerância parece ter um cunho religioso. Os fundamentalismos ganham cada vez mais espaço, o homem, cada vez mais ensimesmado, faz de si mesmo o critério para tudo.
Olhar mães chorando por suas crianças perdidas na lama de uma irreparável inconsequência. Olhar os “grandes” silenciados por terem “telhados de vidro”. Olhar famílias inteiras que se perderam e sem perspectivas de recomeço. Tudo isso faz crescer um doloroso sentimento de impotência, de que não adianta rezar. E até mesmo se perguntar: onde estava Deus? Ele poderia intervir e não o fez, onde está o Amor? Recordo-me das sábias palavras do Papa João Paulo I, ainda cardeal, quando foi questionado sobre onde estava Deus que não via as atrocidades da guerra, ele santamente respondeu: “a pergunta correta não deveria ser onde está Deus, mas sim, onde está o homem”.
É preciso olhar para a cruz, ela é a explicação de tudo, ela é a resposta a tudo, pois é a linguagem do amor para quem ama. Justamente por levantar questionamentos sem respostas, justamente porque provoca silêncio mesmo que doloroso. Ela remete ao Mistério. O porquê de toda dor é explicado sempre pela ganância humana, pela avareza, pela ‘irracionalidade dos racionais’, pela falta de amor.
Jesus orientou simplesmente a amar, amar gratuitamente, sem reservas. Caso esse imperativo fosse minimamente levado a sério, o ódio não seria tão grande, as dores seriam amenizadas. O Evangelho é sempre a solução, é sempre a resposta. Jesus ensinava propondo, ensinava na liberdade de cada coração, de cada consciência. Sempre covidava para seu seguimento, nunca impunha.
Com efeito, falta obediência. Falta priorizar Deus na vida de cada um, dos “grandes” e dos “pequenos”. Entender que antes de qualquer divisão ilusória e falível de classes há sempre irmãos, filhos do mesmo Pai, que precisam ser respeitados simplesmente porque existem.
Não são seres descartáveis, não são objetos de consumo. São filhos e filhas de Deus que querem viver com dignidade. A fé faz ver isso, abre os olhos, aquece o coração e faz amar. Quantos gritos o Papa Francisco já deu e continua fazendo, as vezes parece prever os acontecimentos. Mas mesmo assim, a “surdez”, a “mudez” e a “cegueira” não deixam o Evangelho ecoar, priva as pessoas daquilo que lhe é mais digno que é a vida.
É preciso viver tendo o Evangelho como horizonte sempre, ele não é um peso para a existência, mas uma luz para ela. Ele sempre é a solução; para as dores dos que sofrem e choram suas perdas e para a conversão dos que são causa de dor e sofrimento. Continuemos anunciando e ajoelhando diante do crucificado, associando a Ele todas as nossas dores e firmes na certeza da ressurreição que Ele mesmo nos prometeu.
ALESSANDRO TAVARES ALVES
III ANO DE TEOLOGIA