O final do Congresso Eucarístico, cardeal reafirma impulso missionário do papa Francisco

Legado Pontifício nomeado pelo papa Francisco para o XVII Congresso Eucarístico Nacional (CEN 2016), o arcebispo emérito de São Paulo (SP) e presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cardeal Cláudio Hummes, presidiu as principais celebrações do evento realizado em Belém (PA), entre os dias 15 e 21 de agosto. O tema refletido durante o Congresso foi “Eucaristia e partilha na Amazônia Missionária”. O lema recordou os discípulos de Emaús “Eles o reconheceram no partir do pão”.

Em sua homilia na missa de encerramento, dom Cláudio ressaltou a solenidade celebrada no dia – Assunção de Nossa Senhora -, que “traz uma segura mensagem de esperança, a saber, a vitória definitiva do bem e não do mal, a vitória da vida e não da morte, a vitória do amor e não do ódio, a vitória da paz e da misericórdia e não da guerra, da violência e do terrorismo”. Segundo o cardeal,  a imagem da “mulher vestida de sol renova sempre a mensagem da importância da mulher na vida da Igreja, na vida da sociedade, na vida familiar”. “Esta importância da mulher que o papa Francisco está procurando resgatar melhor”, lembrou. “Nossa Senhora é também a mulher eucarística, porque o corpo e o sangue de Jesus Cristo são fruto de seu ventre”, explicou.

Dom Cláudio disse que os participantes do Congresso retornam às suas casas “alegres e firmes na fé, anunciadores corajosos e missionários sem medo nem hesitação, assim como os dois discípulos de Emaús depois de reconhecerem Jesus Cristo ressuscitado no partir do Pão”. Aos mais de 500 mil participantes que estiveram presentes nos momentos do evento, o cardeal pediu que não deixem que o fogo do Espírito Santo, renovado e “atiçado” pelo encontro pessoal e comunitário com o ressuscitado, se extinga. “Cada um de nós, segundo seu estado de vida e condições de trabalho, é solicitado a ser missionário/a em seu ambiente e em sua família. Mas nós, pastores, de modo muito particular, devemos assumir a missão que Cristo nos confiou”, frisou.

Desafio

Ao recordar o papa Francisco, dom Cláudio Hummes lembrou do desafio que atividade missionária representa para a Igreja e que deve ser “a primeira de todas as causas”, o que vale “de forma bem determinante para a Igreja Missionária na Amazônia, a começar pela evangelização dos indígenas e solidariedade para com eles”. O Legado Pontifício destacou a realidade indígena, considerando que estas populações tradicionais são “as mais pobres dos pobres”, uma vez que “delas se tirou tudo: a terra, a cultura, a história, o futuro e a própria identidade”. Para dom Cláudio, há, ainda, um longo caminho a percorrer, “uma enorme dívida a saldar, para que os indígenas possam de novo ser plenamente sujeitos e protagonistas de sua história”.

Entre os desafios citados por dom Cláudio a respeito da evangelização na Amazônia, estão a inculturação do Evangelho nas culturas dos povos originários e a realidade das populações interioranas e ribeirinhas, com “o rápido processo de urbanização que aportam consigo todos os problemas das periferias urbanas e da pobreza crescente e a defesa da “casa comum”.

De acordo com o cardeal, as indicações do papa Francisco consistem em uma renovação missionária que “só trará frutos de salvação se fizer surgir e desenvolver uma  Igreja  profundamente misericordiosa”.

“Igreja missionária e misericordiosa, pobre e para os pobres. Uma Igreja “em saída” para ir ao encontro de todos, mas especialmente às periferias geográficas e existenciais. Para fazer o que nas periferias? Anunciar Jesus Cristo e praticar a misericórdia. A misericórdia será o teste da autenticidade de nossa pregação”, disse aos  bispos que participaram da celebração. Ao todo, mais de 100 prelados estiveram no Congresso.

“Abrir a Igreja, saber derrubar muros e construir pontes para ir ao encontro de todos, consolar, abraçar, sorrir e chorar juntos, conviver e compartilhar, acender luzes na noite em que andam tantas pessoas desorientadas, enxugar lágrimas e curar feridas, é isto que o mundo espera de nós cristãos. É nisto que seremos reconhecidos como discípulos verdadeiros de Jesus Cristo”, exortou.

Dom Cláudio encerrou sua homilia com um apelo à Igreja no Brasil em favor da Igreja Missionária na Amazônia, recordando a frase do papa Paulo VI “Cristo aponta para a Amazônia”. O cardeal salientou que o papa Francisco encoraja “sempre de novo a não esmorecer na Amazônia”.

“Ele nos disse na Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro (RJ), que a Igreja na Amazônia precisa arriscar e não ter medo. Não podemos perder a Amazônia, aqui onde já durante quatro séculos tantos missionários e missionárias deram sua vida e tantos hoje continuam a dar sua vida. Essa missão é nossa, é nosso maior e mais fascinante desafio missionário”, disse.

Participação

De acordo com a organização do CEN 2016, cerca de 600 mil pessoas estiveram presentes no evento, que estava inserido no contexto das comemorações do quarto centenário do início da Evangelização da Amazônia e da fundação da cidade de Belém. A contagem também apontou para 200 circunscrições eclesiásticas representadas, entre arquidioceses, dioceses e prelazias, ordinariado militar, arquieparquia e eparquias. O Simpósio Teológico realizado no Centro de Convenções da Amazônia reuniu duas mil pessoas.

A arquidiocese de Belém e a organização do evento avaliaram a realização do XVII Congresso Eucarístico Nacional de forma positiva e consideram que o evento “realizou seu de objetivo de tornar visível para todo o país a força da Eucaristia e a ação Missionária na Amazônia”. “Em uma semana de programação a igreja do Brasil pode conhecer o jeito de ser da igreja viva da Amazônia”, informa.

Voltar o olhar para a Amazônia

O arcebispo de Brasília (DF) e presidente da CNBB, dom Sergio da Rocha, considerou o Congresso Eucarístico um “grande estímulo para Igreja no Brasil voltar o olhar e o coração para a Amazônia por meio da solidariedade, da partilha e da cooperação missionária, cuja fonte é a eucaristia”.

Para dom Sergio da Rocha, há esperança de que, a partir do Congresso, a Igreja cresça “na partilha e missão, com novas iniciativas missionárias”.

A assessora da Comissão Episcopal para a Amazônia da CNBB, irmã Maria Irene Lopes dos Santos, ressaltou dois momentos marcantes durante o Congresso Eucarístico Nacional. No Centro de Convenções foi realizada uma exposição sobre a Amazônia e uma celebração seguida de marcha em uma praça, chamado de “Grito da Amazônia”. Na ocasião, foram citados os grandes projetos que acontecem na região, crianças representaram a realidade local e a questão do trabalho infantil e apresentações culturais refletiram sobre as populações tradicionais. A religiosa comemora a visibilidade às iniciativas da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam). “Para nós foi um momento muito rico para mostrar o trabalho da Repam e da Comissão para a Amazônia. Acredito que por todas as pessoas que passaram por ali, um pouco da Repam ficou e esse era o nosso objetivo”, avalia.

Amazônia Missionária

O bispo auxiliar de São Luís (MA) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Missionária da CNBB, dom Esmeraldo Barreto de Farias, disse que o CEN 2016 procurou destacar a situação da Amazônia, seja em seus grandes desafios, como a realidade das grandes cidades da região e o ser missionário olhando as populações indígenas.

“É um grande desafio para que possamos ser e viver como missionários nessa realidades sabendo que é o próprio Cristo que nos impulsiona, que nos alimenta para que sejamos uma Igreja em saída, a partir dos pobres, despojada, que não busca triunfalismo, que não busca benefícios e privilégios para si, mas missionários e missionárias que se entregam”, afirmou.

Dom Esmeraldo destacou que “o trabalho de evangelização leva em conta todas essas realidades na certeza de que a missão é anuncio da presença viva de Jesus Cristo, anúncio e testemunho desse reino de Deus, dessa ação de Deus que já vai acontecendo”.

O bispo lembrou dos frutos do trabalho missionário que acontece na região amazônica, como os leigos e religiosos que atuam nas comunidades e a formação do clero local e autóctone nas dioceses e prelazias do norte brasileiro.

A arquidiocese de Belém e os organizadores do Congresso manifestaram o desejo de que, a partir do CEN, “as pessoas tenham uma maior participação na eucaristia, no fortalecimento da vida paroquial nas equipes de liturgia e tudo aquilo que diz respeito à vida da Igreja e que sejam fiéis anunciadores da palavra e cumpram o mandamento de levar o Evangelho a todas as criaturas”.

Juventude

Com momentos dedicados à participação da juventude, como as visitas missionárias nas paróquias e a celebração da sexta-feira, dia 19, no estádio Mangueirão, o CEN 2016 agregou valor à juventude, que “começa a ter uma compreensão maior sobre a experiência de Deus que fazem na Eucaristia no cotidianos de suas vidas”, observou o assessor da Comissão Episcopal para a Juventude da CNBB, padre Antônio Ramos do Prado, que esteve no evento.

Próximo Congresso

A escolha da sede do próximo Congresso acontecerá  durante a 55ª Assembleia da entidade, em 2017.

Com informações e fotos da Fundação Nazaré de Comunicação e organização do CEN 2016